São 05h30 de uma terça-feira. Estou iniciando uma jornada que só vai terminar às 22h45m. Soma aí: são 18 horas fora de casa. Em meio ao trânsito intenso de Manaus, milhares de motoristas disputam um espaço nas ruas movimentadas da cidade, antes mesmo do nascer do sol.
Devo ter lido em algum lugar que em Manaus são mais de 40 mil motoristas de aplicativo trabalhando diariamente. No Brasil são mais 1,5 milhão de homens e mulheres que levam e trazem passageiros ou entregam comidas, produtos e até pets. O salário médio pago pelo aplicativo para um motorista em Manaus é de aproximadamente R$ 2.447 por mês, o que, segundo o IBGE, está 16% acima da média nacional. Pouco para quem desempenha essa função sentada (são mais de 12 horas, não esqueça)
Quem está nessa vida enfrenta limites, perigos e desafios diários. No meu caso, tudo isso é o combustível que me movimenta para que eu lute por um sonho. Eu, Tânia Luzia Felix, aos 44 anos, mãe de três filhos, corro atrás de um pedaço de papel cheio de significados: um diploma do curso de Jornalismo.
Há 2 meses sou motorista de aplicativo e encontrei na direção, um meio de financiar meu curso acadêmico na Faculdade Metropolitana de Manaus, onde aos trancos e barrancos, estou concluindo o sétimo período.
Desde muito cedo, criança mesmo, minha paixão era escrever. Passava horas ouvindo o rádio… cultivando o sonho de um dia ser como aquelas pessoas que falavam tão bem.
Mas esse sonho ficou em segundo plano com a chegada dos filhos. Precisei adiar os planos até que eles crescessem. Mas o tempo foi bondoso comigo: hoje, com mais idade, meus filhos são minha rede de apoio e compreendem a minhas longas ausências na vida deles.
O que me trouxe até aqui foram basicamente dois motivos: a flexibilidade nos horários, que me possibilita equilibrar o tempo entre os estudos e a família, conciliando o trabalho com os afazeres pessoais e domésticos. Nem sempre dá certo, mas eu tento. Outro ponto é a autonomia para administrar os recursos e, assim, pagar as despesas.
Tem um aspecto legal no meu trabalho; durante as corridas são compartilhados risos, histórias (tristes, alegres, fantasiosas, outras curiosas), conselhos, preces, reclamações e prosas. Cada passageiro tem suas peculiaridades, nenhuma viagem é igual a outra, e isso torna o dia mais dinâmico. Essa troca coopera para que a minha formação seja mais humanizada.
Os clientes da plataforma se admiram. e fazem elogios e mensagens de apoio quando descobrem que eu trabalho durante o dia e estudo à noite. Me sinto protegida e cercada por pessoas de boa vontade. Tenho aprendido que o valor da corrida não está exatamente no preço, mas na capacidade do manauara de abraçar causas e pessoas. E eu me sinto manauara junto com eles.
A vida de um motorista não é fácil. No entanto, é possível dirigir com um sorriso no rosto, acreditando que esse é um tempo oportuno para aprender novas lições de vida, pois o que está em questão não é apenas a conquista de um diploma, mas também um futuro promissor para uma futura jornalista. Quando sinto muito cansaço e estresse, penso: Eu quero ser um exemplo para meus filhos e mostrar a eles que com esforço e determinação tudo é possível.
Eu sei que a minha história não é um caso isolado. Ela se conecta com outras mães solo, que inspiram resiliência, força e beleza, amor e empatia. A busca pela conclusão do curso de Jornalismo representa uma vitória pessoal e um legado para os meus filhos.
Fiquei sabendo que Caco Barcelos já foi motorista. Na estrada da vida, a caminhada se faz ao caminhar.
Boa viagem!