Porque os mais jovens não gostam de aparecer nas redes sociais? A geração que nasceu hiperconectada mas que se esconde atrás de “icons”
Por: Kézia Martins, Micaele e Thais Nersan
A Geração Alpha (2010 a 2025), é conhecida como a primeira totalmente digital-nativa (pessoas que cresceram imersas em tecnologias digitais). Filhos da Geração Z cresceram em casas com assistentes virtuais, tablets, celulares e inteligência artificial.
Antes mesmo de aprender a ler, eles aprenderam a deslizar a tela. Senso Comum de 2025, aponta que 40% das crianças já têm tablet aos 2 anos, 58% aos 4 anos e quase uma a cada quatro crianças já tem celular, sendo que as redes sociais que eles mais utilizam são o Youtube e o TikTok.
Os alphas criaram sua própria maneira de se relacionar com a tecnologia. Movimentos como Feed Zero, que vem crescendo não só entre eles, mas também entre os jovens adultos da geração Z que, apesar de não terem nascidos integrados à internet, foram crescendo junto com a sua evolução, acompanhando cada passo novo que ela dava. Esse movimento veio para nadar contra a corrente do princípio das redes sociais, que é conectar pessoas compartilhando informações como: foto do look, do prato que estamos comendo, em que festa estamos, que filme estamos assistindo, etc.
Uma adolescente de 15 anos conta o porque não gosta de postar fotos: “Sinceramente eu não costumo postar fotos nas redes sociais. Eu não me sinto muito fotogênica e acabo não gostando de como fico nas fotos, não por insegurança… Até tenho um perfil priv para os amigos mais próximos, mas me vacinar não compartilho nada sobre minha aparência. Então não posta foto nem no geral e no Close Friends.”
A questão que fica é: porque essa geração gosta de estar conectada mas não gosta de aparecer? Muitas das problemáticas que as gerações anteriores como a Gen Z e os Millenials enfrentam nas redes sociais eles passaram a sofrer também, como a comparação, pressão estética, privacidade e segurança, a crítica e o cyberbullying (termo que surgiu junto com a popularização da internet).
Para a psicóloga clínica especialista em criança e adolescência, Lisiane Thompson, os pais da geração alfa estão perdendo o controle sobre o acesso dos filhos às redes sociais. Muitos jovens acabam deixando os estudos de lado para passar horas navegando, e quando os pais tentam intervir já é tarde demais, pois aquilo foi permitido antes, gerando brigas constantes. Para Lisiane Thompson, os pais da geração alfa estão perdendo o controle sobre o acesso dos filhos às redes sociais. Muitos jovens acabam deixando os estudos de lado para passar horas navegando, e quando os pais tentam intervir já é tarde demais, pois aquilo foi permitido antes, gerando brigas constantes:
“Se tu perguntar para pacientes dessa idade, eles sabem de tudo o que acontece: fofocas nas redes, dentro da escola, fora da escola… Mas, ao mesmo tempo, eles não querem se expor. Existe, sim, o medo do cyberbullying, mas vai além disso. Eles criam códigos entre si. Quando colocam a foto de um personagem, não é só uma questão de gostar dele. Esse personagem traz traços de personalidade com os quais eles se identificam, pode ser alguém mais agressivo, mais introspectivo, mais divertido. Às vezes, uma menina coloca a foto de um personagem masculino não porque é apaixonada, mas porque se vê nele. É uma linguagem secreta entre eles, que os amigos entendem, mas os pais não.”
A psicóloga cita o caso de uma paciente de 12 anos, com corpo já desenvolvido, que começou a se expor de forma sensual. “O nome do perfil eram apenas letras e a imagem era de um anime. Ali, ela estava transmitindo uma mensagem secreta, um código. Eu comecei a trabalhar com ela o perigo de acontecer isso porque as pessoas da internet, eles podem se passar como adolescente ou com crianças, e na verdade são adultos”, alerta Lisiane.
Ela explica que muitas crianças criam códigos entre si para se comunicar, acreditando que, assim, conseguem se esconder dos pais. Esse comportamento, porém, pode levar a situações perigosas, envolvendo tanto o cyberbullying quanto a sexualidade, já que muitos não têm um entendimento real do que isso significa.
Para evitar, ou ao menos tentar evitar, os efeitos da exposição, muitos da Geração Alpha não apenas deixam de mostrar o rosto, mas também se escondem atrás de personagens, os chamados icons, criando uma identidade virtual própria. Essa persona serve como escudo contra críticas e comparações, mas também pode se tornar uma arma. Alguns a utilizam para atacar quem se mostra, e há ainda o risco de adultos mal intencionados se passarem por crianças por trás desses perfis anônimos.
Outra adolescente de 15 anos prefere deixar suas redes sociais sem foto e explica:
“Eu não costumo postar muitas fotos nas minhas redes sociais. Podemos dizer que eu tenho um pouco de insegurança, mas não é algo muito forte. O que realmente acontece é que eu tenho medo do que as pessoas vão falar ou pensar quando elas vêem minha foto e, às vezes, eu mesma acabo não gostando delas e acaba que eu não posto. Eu tenho duas contas: a principal e priv. Mas acaba usando mais a minha priv que é onde eu posto só para os meus amigos próximos e pessoas que eu convivo no meu dia a dia. Já a minha principal, eu não costumo postar nada lá, eu nem apareço, não fico expondo a minha vida nem nada. Então basicamente eu só compartilho algumas coisas quando eu sei que é para pessoas que eu confiam.”
Essa geração mostra que é possível participar do mundo digital preservando a própria identidade e segurança. Resta saber como será sua relação com as redes sociais à medida que crescerem: continuarão protegidos atrás de seus avatars ou passarão a adotar a lógica das gerações anteriores?