Greve em Manaus: salários, benefícios e o impasse no transporte público

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Greves iniciadas em abril de 2025 teve adesão parcial e impacto imediato na cidade

Rodoviários parados em uma empresa de Manaus / Foto: Divulgação

Por Camila Vieira, Larissa Grazielly e Marcela Barrozo

A capital amazonense viveu, em 2025, dias de tensão no transporte coletivo, com greves e ameaças de paralisação dos rodoviários que afetaram milhares de usuários. As mobilizações ocorreram ao longo do ano, motivadas por reajustes salariais, benefícios e a manutenção da função de cobrador, expondo um impasse entre trabalhadores e empresários do setor.

A primeira paralisação significativa ocorreu em 15 de abril, quando os rodoviários paralisaram metade da frota de ônibus da cidade. A adesão expressiva da categoria provocou longas filas, superlotação nos veículos e atrasos generalizados. Representados pelo Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Manaus (STTRM), os trabalhadores reivindicavam 12% de reajuste salarial, uma gratificação de R$ 1.200 para motoristas que acumulam a função de cobrador e a manutenção do cargo de cobrador, ameaçado pela digitalização do sistema de bilhetagem.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo Urbano e Rodoviário de Manaus e Região Metropolitana, Givanci Oliveira, ressaltou que a categoria não é contra ajustes graduais, mas defende limites claros para evitar cortes em massa.

Segundo Givanci, o sindicato aceita o desligamento de apenas 10% dos cobradores.

“Nas linhas que são fracas e já não geram lucro, podemos negociar. Mas agora querem retirar de 33% a 40% dos postos de trabalho de imediato”, comentou.

A Justiça do Trabalho chegou a proibir a greve com uma liminar que determinava a circulação de ao menos 70% da frota nos horários de pico e 50% nos demais períodos, sob pena de multa de R$ 50 mil por hora. Mesmo assim, a paralisação teve forte adesão no primeiro dia, afetando diretamente a mobilidade urbana. Frente à crise, a Prefeitura de Manaus mediou a negociação entre o sindicato dos trabalhadores e o Sinetram (Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Amazonas). O acordo, firmado em 16 de abril, previu reajuste de 6%, gratificação de R$ 600 para motoristas-cobradores e o início de um processo de retirada gradual dos cobradores, com acompanhamento sindical. O pagamento imediato dos salários atrasados também foi incluído na negociação. Os ônibus voltaram a circular normalmente no dia 17, encerrando a paralisação.

Em junho, uma nova paralisação foi anunciada para o dia 9, mas acabou suspensa após acordo entre Sindicato dos Rodoviários e Sinetram, mediado pelo IMMU. A categoria ameaçava parar 100% da frota em resposta ao descumprimento do acordo que previa a redução gradual dos cobradores para 15%. O sindicato alertava que os empresários planejavam reduzir 35% dos cobradores, o que afetaria cerca de 600 trabalhadores.

Divulgação/ @rodoviariosmanausoficial

Já em julho e início de agosto, o sindicato deflagrou nova greve geral por tempo indeterminado a partir de 4 de julho, motivada pela possível ampliação da frota de ônibus sem cobradores, sobrecarregando motoristas e descumprindo acordos anteriores. O sindicato solicitou ao Sinetram que garantisse pelo menos 50% da frota operando, conforme a lei de greve.

Tentamos entrar em acordo para a permanência dos nossos colegas que são trabalhadores, que precisam do seu trabalho para sustentar sua família. E aí tem o nosso reajuste salarial, os empresários vão lucrar mais com a gente fazendo duas funções e recebendo uma”, relatou Ednilson da Costa, um dos motoristas que aderiu ao movimento grevista, em entrevista para o g1.

Em 26/08 os rodoviários anunciaram mais uma paralisação por tempo indeterminado devido a atrasos no pagamento de salários e descumprimento de acordos. A greve, decidida em assembleia no dia 22, seria limitada judicialmente a 50% da frota, mas novamente a Prefeitura, por meio do IMMU, mediou as negociações e garantiu que os ônibus circulassem normalmente.

As mobilizações rodoviárias em Manaus evidenciaram a necessidade de diálogo constante entre trabalhadores, empresas e poder público para assegurar a regularidade do transporte e atender às reivindicações dos trabalhadores. Apesar dos transtornos, os acordos parciais obtidos representaram avanços nas condições de trabalho e reforçaram o debate sobre a modernização do setor e a função do cobrador.

Infográfico dados gerais

Link da Greve dos Rodoviários / Imagem TV A Crítica:


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