Crise do clima: o mundo se volta para a Amazônia

c

Por Amanda Brasil, Beatriz Miranda, Brendo Cidade, Feifiane Ramos e Priscila Vasconcelos

Nos 4 primeiros meses de 2020 a floresta perdeu uma área maior que a cidade de São Paulo. | Foto: Reprodução

As mudanças climáticas tem gerado discussões em todo o mundo nos últimos anos, quanto mais o cenário se agrava, mais tentativas de frear o aumento da temperatura se observam. Ativistas de todas as idades e etnias levantam suas vozes para chamar a atenção do mundo para a urgência da causa. Preservar o planeta e seus recursos naturais é preservar a vida.

Entretanto, ainda existem pessoas que não acreditam em mudanças climáticas ou desatamento. Como mostra a pesquisa “Cabeça do Manauara” realizada pela agência iMarketing em 2019, na qual 10,2% dos entrevistados afirma acreditar que o aquecimento global não passa de uma invenção midiática e de grupos econômicos, e 10,7% credita que exista pouco desmatamento na Amazônia.

Cacique Raoni e Greta Thunberg, ativistas da causa ambiental. | Foto: Reprodução

As constantes mudanças climáticas observadas de forma mais grave na última década, preocupa também autoridades internacionais. Segundo o Boletim da Sociedade Americana de Meteorologia, a última década foi a mais quente já registrada, e isso mostra uma tendência: cada década desde de 1980 tem sido mais quente que a anterior. Ainda de acordo com o boletim, a emissão de gases agravantes do efeito estufa também cresceu e é apontada como a principal causa do aumento da temperatura global.

A urgência do assunto parecia ser tanta, que em 2015 foi fechado o “Acordo de Paris”, no qual vários países se comprometiam a manter as temperaturas médias do planeta abaixo de 2°C. Para isso, cada país definiu suas metas para garantir a conclusão do acordo. Entre as metas brasileiras estão: restaurar 12 milhões de hectares de florestas e alcançar desmatamento ilegal zero na Amazônia, esses objetivos parecem estar longe de serem alcançados.

Após a conclusão do acordo, o mundo passou por recordes de altas temperaturas, desmatamentos e incêndios florestais como os vistos na Austrália, que foram tão graves a ponto de elevar a níveis muito altos a emissão de CO2. De acordo com o relatório NOAA da NASA, o verão de 2018-2019 foi o mais quente da história do país, e 9 dos 10 dias mais quentes foram em 2019. O relatório aponta ainda 2019 como o segundo ano mais quente já registrado, o derretimento de geleiras tem causado o aumento preocupante no nível do mar e a temperatura dos oceanos foi a mais alta desde o início da medição. Esses números representam um enorme perigo para os ecossistemas, além de aumentar as chances de desastres naturais.

O desmatamento é um outro grande contribuinte para o aumento da temperatura global. O Brasil possui a maior floresta tropical do mundo, ela influencia diretamente na estabilidade do clima. Entenda melhor qual a relação de desmatamento e clima, com Romulo Falabello, integrante do grupo Green Peace em Manaus e a Doutora em Climatologia e professora da Universidade Fametro Alexandra Amaro de Lima:

Segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente (Imazon), em abril a Amazônia teve 592 km² desmatados e o acumulado dos 4 primeiros meses de 2020 chegou a 1.703 km², uma área maior que a cidade de São Paulo.

Dados divulgados em julho pelo sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam um aumento nos alertas de desmatamento na Amazônia no primeiro semestre de 2020 foi de uma área de 3.069,57 km², um aumento de 25% em comparação ao mesmo período de 2019. A estimativa feita entre agosto de 2019 e julho de 2020 mostra um aumento de 64% na taxa de desmatamento observada no mesmo período de 11 meses entre 2018, 2019, e pelo que podemos observar, é esperado um aumento desta taxa para 2020.

No total, de acordo com dados divulgados no último dia 20 de novembro pelo Imazon, de janeiro a outubro de 2020 6.920 km² de floresta foram desmatados, 23% a mais em comparação com 2019. Só em outubro a alta foi de 49%.

Confira os estados que mais desmataram em outubro, segundo o Imazon:

Governo Bolsonaro na contramão da preservação

Enquanto a Amazônia se acaba em chamas pelas queimadas e morre com o aumento do desmatamento, o presidente Jair Bolsonaro afirma que a “imagem ruim” que o país tem lá fora, é ocasionada pela “desinformação”, ou seja, mesmo com todos os dados dos institutos, Bolsonaro parece ignorar a atual situação da nossa Amazônia.

O presidente declarou em setembro, em discurso na Cúpula da Biodiversidade das Nações Unidas sem apresentar provas, que as organizações não governamentais são as responsáveis pelos crimes ambientais e ainda acrescentou que a Amazônia é alvo da cobiça estrangeira. Em seu discurso gravado ele disse:

“Informações falsas e irresponsáveis sirvam de pretexto para a imposição de regras internacionais injustas, que desconsiderem as importantes conquistas ambientais que alcançamos em benefício do Brasil e do mundo”.

O presidente vem ao longo do seu mandato recebendo diversas criticas internacionais, por seu posicionamento frente às queimadas e desmatamento da Amazônia, mas Bolsonaro afirma que tais críticas vêm de países com interesse comercial sobre a Amazônia, nas quais visam enfraquecer o seu governo.

Ainda no discurso, ele insistiu na importância de combinar sustentabilidade e desenvolvimento, defendendo assim a exploração racional e sustentável dos recursos presentes no território brasileiro, “em prol de nossa sociedade”.

O presidente Jair Bolsonaro durante seu discurso na Cúpula da Biodiversidade, evento das Nações Unidas. | Imagem: Reprodução

Maior devastação da Amazônia em 10 anos

A gestão do ministro do meio ambiente Ricardo Salles tem causado preocupação em ativistas ambientais e representantes indígenas do Brasil. Isso devido às polêmicas envolvendo o ministro, suas falas e ações do ministério, como por exemplo, a declaração sobre aproveitar a pandemia para “passar a boiada”, que aconteceu durante a reunião ministerial que foi veiculada em abril pelos jornais brasileiros. Salles se referia a fazer mudanças nas leis de proteção ambiental e produção agrícola enquanto o foco do país era a pandemia e com isso, evitar críticas e processos na justiça.

Outro episódio envolvendo o ministro, foi a exoneração de chefes de fiscalização do IBAMA, após uma operação contra o garimpo ilegal na Amazônia. Os cargos passaram a ser comandos por um coronel de reserva da Polícia Militar de São Paulo e um ex-comandante da ROTA.

De acordo com informações do UOL, em 2019, a Amazônia teve maior área devastada em dez anos. Contrariando os dados, Jair Bolsonaro declarou:

“Desde 2019, meu governo vem adotando políticas de proteção ao meio ambiente de forma consciente, sabendo do duplo desafio que enfrentamos”.

Todavia, dados do Inpe, mostram que entre 2018 e 2019, seu primeiro ano de governo, a Amazônia Legal teve a maior área devastada em dez anos. Ainda de acordo com o instituto, de 1º de agosto de 2018 a 31 de julho de 2019, 9.762 km² de vegetação nativa foram derrubados na área que compreende nove estados. Em 2019, a região registrou 89.176 focos de queimadas, um aumento de 30% em relação a 2018 e terceiro pior ano da década, segundo o Inpe.


Leave a comment
Your email address will not be published. Required fields are marked *