Celebrando o lançamento de “Motel Destino”, novo filme do diretor Karim Aïnouz (“Madame Satã”), convidamos a atriz amazonense Isabela Catão para conversar um pouco sobre sua participação no longa, experiências no Festival de Cannes, a cena de cinema nortista e outros projetos.
Um pouco sobre Isabela
Nascida em Manaus, Isabela Catão é formada em Teatro pela Universidade Estadual do Amazonas (UEA) e começou sua carreira no Ateliê 23, premiado coletivo artístico manauara de artes cênicas, música e audiovisual, em espetáculos como “Sur La Vie”, “Persona Face Um” e “Sobre a adorável sensação de sermos inúteis”.
No cinema, trabalhou majoritariamente em curtas-metragens, como “A Goteira” (2019) e “O Barco e o Rio”, ambos de Bernardo Ale Abinader, e “Enterrado no Quintal” (2022), de Diego Bauer. Na TV, participou da série “Aruanas”, da Rede Globo.
Um bate papo gostoso
Em uma quinta-feira especial, a quinta-feira em que “Motel Destino” finalmente chegou aos cinemas brasileiros, nos encontramos com Isabela no Casarão de Ideias, no Centro Histórico de Manaus, para tomar um café e conversar sobre o último ano de sua carreira.
Confira agora, os principais pontos dessa conversa que quase custou a presença dela em eventos importantes de divulgação do longa:
Muitos te conhecem podem te conhecer agora por conta de “Motel Destino”, mas você já possui uma carreira no teatro. Como tem sido esse passeio que ‘cê anda fazendo entre o teatro e o cinema?
“Minha carreira começou no teatro, mas depois eu fui migrando para a televisão e o cinema. Desde que eu migrei para o cinema, eu tenho me apaixonado cada vez mais pela linguagem e tenho buscado melhorar como atriz, me conhecer mais mesmo, sabe? É um lance meio de desenvolvimento pessoal, mas acho que a carreira de atriz te convida a conhecer outros universos e se perceber como ser humano no mundo”.
Quando estávamos marcando a entrevista, você disse que sua participação em “Motel Destino” era pequena, mas com significado. Como você descreveria sua personagem e a sua participação no filme?
“Dentro do ‘Motel Destino’, minha personagem é a Martha. Ela aparece no começo do filme e seduz o Heraldo, que é o protagonista, leva ele para o Motel Destino e é partir daí que toda a história dele se desenvolve, que toda a trama começa. Um amigo meu me disse que a Martha atua como uma espécie de entidade no filme, um tipo de delírio magnético que chega e leva o Heraldo para esse lugar onde a vida dele vai mudar completamente”.
Para você, como é esse processo de sair de Manaus para trabalhar em projetos como “Motel Destino”?
“Antes de ‘Motel Destino’, eu já tinha saído de Manaus para trabalhar com a Adriana de Faria, que é uma diretora paraense que eu admiro muito, para gravar um outro projeto antes do filme do Karim. Eu acho que é algo que amplia muito o seu campo de visão cultural, o que é muito, muito bom. Minha professora de literatura dramática trabalhou por 20 anos em um departamento do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura e ela sempre nos contava sobre os artistas e o cinema cearenses, por exemplo, então foi muito bom passar por isso de sair da minha cidade e conhecer melhor as diferentes formas com que as pessoas trabalham, sabe?”
Falando em sair de Manaus, em 2024 você deu uma volta pela França já que “Motel Destino” concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes. Como foi tudo isso?
“De primeira, eu não sabia que ia para Cannes. Eu estava passando sete dias em Fortaleza quando o Karim me ligou e disse que o filme tinha sido selecionado para o festival. Isso foi praticamente um mês antes de precisarmos viajar e eu não botava muita fé que eu ia conseguir não (risos), mas consegui. Eu não sabia de toda a dimensão em volta do Festival de Cannes, então eu só queria ir para assistir ao filme e comungar com meus colegas de produção. Foi uma experiência muito linda estar próxima de todo mundo que fez parte do filme de alguma forma, ver as pessoas ansiosas com o festival, gente apaixonada por cinema”.
Acho que todo mundo na cena cinematográfica de Manaus já foi meio pessimista quanto a projeção de trabalhos produzidos aqui e eu lembro que em uma das nossas conversas anteriores você também falou sobre isso. Sua visão mudou? Você acha que o cinema daqui está caminhando para algo mais interessante e com mais visibilidade do que víamos antes?
“Eu acho que hoje o cinema amazonense, em específico o cinema manauara, tem ganhado mais autoestima e crescimento com as leis de incentivo à cultura. Eu acho que é cada vez mais óbvio que a gente precisa investir em políticas públicas, principalmente em políticas continuadas, como é feito no nordeste. Nesse sentido, o nordeste é um exemplo para o resto do país, já que eles conseguiram encontrar uma espécie de independência que permite contar suas próprias histórias, e eu genuinamente acho que estamos caminhando para encontrar esse lugar também. Tendo em vista os projetos que devem ser lançados no próximo ano, acho que estamos em um caminho de amadurecimento que tem abrangido longas-metragens, curtas, novos atores, uma universidade que abriu o curso de audiovisual e que conta com uma turma jovem e engajada. É muito legal e emocionante perceber isso”.
Por fim, como você convidaria alguém que ainda não assistiu a “Motel Destino” para assistir ao filme?
“Eu diria que se você ainda não viu, veja! É um filme com uma história super interessante, importante e necessária, super brasileiro e dirigido por Karim Aïnouz. Não deixem de ir ao cinema e não deixem de apoiar o cinema brasileiro”.
Motel Destino
Estrelando Fábio Assunção, Nataly Rocha e Iago Xavier, “Motel Destino” segue em cartaz com uma história e visuais densos, muito experimentalismo e doses cavalares de tensão sexual.
Se você ainda não sabe se deve ou não dar uma chance ao novo longa de Karim Aïnouz, confira nossa crítica clicando aqui.
Texto: Guilherme Pacheco
Arte: Gabrielly Oliveira