Revisitando “Amor Maldito” no mês da visibilidade lésbica

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É de conhecimento geral que nós brasileiros temos a “mania” de ignorar nossa história e as diversas pessoas que mudaram muitas de nossas concepções de vida, que hoje em dia são simplesmente esquecidas. Com a chegada de agosto, também conhecido como o Mês da Visibilidade Lésbica, muito nos leva a refletir se no nosso cinema brasileiro também não ignoramos alguns fatos históricos.

Quando falamos de cinema lésbico, podemos nos lembrar de clássicos de Hollywood atuais ou antigos, como Carol (2019) ou Infâmia (1961), mas a visibilidade lésbica que anseia por representatividade nos faz ir além e resgatar no passado representatividades do que sempre existiu e sempre esteve presente na história, mesmo que escondido nas entrelinhas. Especialmente em telas nacionais…

Em 1984, aos 37 anos, a diretora Adélia Sampaio lutava em plena ditadura militar para lançar o filme “Amor Maldito”, que, além de ser o primeiro longa-metragem lésbico no cinema brasileiro, também foi a primeira produção audiovisual feito por uma mulher negra no país. 

O filme é baseado em uma história real que a própria Adélia acompanhou de perto, e retrata um romance trágico entre Fernanda (Monique Lafond) e Suely (Wilma Dias). Suely, após entrar em um concurso de Miss, é expulsa de casa e começa um romance com a personagem vivida por Lafond. O filme vai ganhando mais camadas de drama quando Fernanda e Suely decidem se casar, vivendo entre altos e baixos de um relacionamento. 

Suely acaba cometendo suicídio e, por preconceito de seu pais, Fernanda é acusada de assassinar sua esposa, transformando o tribunal em um campo de batalha ideológico, dividido entre aqueles que defendem uma visão preconceituosa e conservadora e a luta pelas diversas formas de amor e respeito.

À medida em que o filme avança, os personagens se envolvem em um debate sobre escolhas e comportamentos considerados inaceitáveis, tudo isso em um cenário carregado de desespero e tensão. Nos deparamos com elementos que conduzem essas mulheres ao exercício de suas liberdades, escolhas sobre seus corpos e a vivência plena de seus sentimentos, desejos e direitos. Esses são os aspectos mais duramente condenados nas protagonistas.

Quando nos minutos finais Fernanda declara que os comentários homofóbicos jogados sobre ela durante todo julgamento não a machucam mais pois, em suas palavras, é uma “mulher assumida”, olhando diretamente para todos, essa é uma cena de forte impacto e empoderamento da personagem. Momentos como esse, dentro e fora da obra de Adélia Sampaio, nos fazem refletir sobre diversos debates e aprendizados acumulados ao longo de décadas de luta , essenciais para construção de uma sociedade onde o gênero e o patriarcalismo não nos impeçam de ocupar espaços.

 

Texto: Gabrielly Oliveira / Fametro 

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Imagem que reúne as duas protagonistas de "Amor Maldito".
Arte: Gabrielly Oliveira

FILME:  Amor Maldito (1984) 

DIREÇÃO: Adélia Sampaio

ROTEIRO: José Louzeiro

ELENCO: Monique Lafond, Wilma Dias, Emiliano Queiroz, Neuza Amaral, Sérgio Ascoly, Jalusa Barcelos, Catalina Bonakie, Octacílio Coutinho, Isolda Cresta, Tony Ferreira, Maria Letícia, Julia Miranda, Nildo Parente, Mário Petráglia, Vinícius Salvatori

DURAÇÃO: 1h16min

Disponível no Youtube (https://youtu.be/Z4_3RumxJ-Q?si=qN3zrlwXeBtGqrdB)


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