Dia 31 de Março é comemorado o Dia Nacional da Saúde e Nutrição. Fazendo parte do calendário do Ministério da Saúde, tem como objetivo principal a conscientização da sociedade sobre a importância da relação entre uma boa saúde e uma alimentação adequada. Porém, de que saúde estamos falando quando se é notável a existência da distinção feita frequentemente entre mente e corpo? Cuidados físicos e cuidados de saúde mental vinham sendo discutidos separadamente, no entanto, nos últimos tempos, os profissionais de saúde têm considerado cada vez mais o bem-estar psicológico, mostrando que a má saúde mental pode ser prejudicial para a saúde física.
Uma boa nutrição é um fator crucial para influenciar a forma como nos sentimos, a comida que comemos pode influenciar o desenvolvimento, a gestão e a prevenção de inúmeras doenças mentais, incluindo depressão e Alzheimer. É por isso que precisamos falar sobre como a indústria da beleza, aliada ao emagrecimento, tem usado destas ferramentas de nutrição de forma errônea para promover uma beleza e bem-estar voltado a um padrão inalcançável.
O padrão de beleza imposto pela sociedade tem trazido grandes desafios para os profissionais de Nutrição, isso porque provoca uma busca da perfeição que está longe de uma vida saudável. Com a adoção de dietas milagrosas, como dietas da sopa, jejum intermitente, chás e eliminação de algum tipo de alimento, algumas pessoas adquirem problemas de saúde muito maiores que o ganho de peso.
O nutricionista Breno Pelogia, explica como pode ser feita a inserção de uma boa alimentação “Partimos do princípio que a alimentação é a primeira forma de prevenção de todas as doenças. Tendo este ponto em mente, precisamos entender o que é essencial para o nosso organismo, como proteínas, carboidratos e lipídeos, lembrando que restrições nutricionais severas podem ser prejudiciais. A importância de um acompanhamento profissional é essencial, tendo em mente que cada corpo é diferente e tem suas necessidades específicas.”
Em uma pesquisa, publicada em 2020 no periódico European Neuropsychopharmacology, foi concluído que existe grande evidências de que dieta e saúde mental estão diretamente ligadas, e de como uma dieta pobre pode aumentar significativamente a possibilidade de ter possuir algum transtorno, como a ansiedade e depressão.
De acordo com a nutricionista Tatiana Zanin do canal Tua Saúde do YouTube, os transtornos alimentares são caracterizados por alterações na forma de se alimentar, normalmente devido a uma preocupação excessiva com o peso e a aparência do corpo, podendo causar consequências graves, como problemas nos rins, no coração e até morte.
A estudante Julie Brito abre um pouco sobre sua experiência ao adotar dietas extremamente restritivas e os problemas que teve que enfrentar no intuito de conscientizar outros jovens sobre os perigos escondidos nessas dietas “milagrosas”, os danos físicos e emocionais.
“Eu não diria que eu sempre fui obcecada com o meu corpo e que eu sempre tive a necessidade de estar magra, porém, nunca estive satisfeita com ele, e estava constantemente me comparando a corpos que via na internet. Então, teve um período na minha vida em que eu decidi que seria uma ótima ideia começar uma dieta, com a desculpa de estar cuidando da saúde, quando na verdade, a gente sabe que a maioria dos casos, não é por saúde e sim por estética, ou não seria com uma mudança tão agressiva, como foi na minha. No início parecia estar indo tudo super bem, tanto que aguentei nisso por 5 meses, com exercícios pesados de domingo a domingo e uma dieta extremamente restritiva. Com isso, nos primeiros 2 meses eu perdi 8kg, isso acabou me dando mais ânimo e quanto mais eu emagrecia, mais eu queria emagrecer, e não fazia ideia de como isso estava mexendo com psicológico. Nunca estava bom o bastante, comecei a usar medicamentos, cinta e diminuir cada dia mais a comida. Com os exercícios excessivos começaram a aparecer feridas e lesões no meu corpo, que já não aguentava mais, sentia muito cansaço e tontura, não conseguia levantar nem para fazer meus exercícios diários, e isso me frustrava. Foi aí que os distúrbios alimentares começaram, meu corpo não tinha mais o que perder com as dietas que eu fazia e eu já não tinha como tirar mais do que eu comia, então eu vomitava. No início foi bem difícil porque que eu tinha pavor de vômito, mas com o tempo meu corpo foi se acostumando e já não sentia mais nada em relação a isso, era como algo natural, eu tinha meus episódios de compulsão alimentar, saía comendo absolutamente tudo que tinha em casa até passar mal, e depois corria para o banheiro vomitar. E assim minha vida começou a virar um inferno, me sentia deprimida e frustrada, parei de me olhar no espelho e não tinha um só dia que eu não chorasse. O que me salvou foi não suportar mais e começar a ter pensamentos suicidas. Tive que abrir a boca, literalmente gritar por ajuda, conversar com meus familiares sobre isso, não perder mais tempo! Então eu procurei profissionais como psicólogo e nutricionista, e passei a excluir das redes sociais e da vida todo tipo de conteúdo tóxico e falso que assim como a mim, sei que fazem com que mulheres ao redor do mundo inteiro sintam-se obrigadas a mudarem seus corpos para entrarem em um padrão humanamente impossível, nos tornando obcecadas com a perfeição, e assim, nunca atingindo esse padrão e nunca estando satisfeitas, nos tornando doentes emocionalmente.”