Por Camile Oliveira e Gustavo Duque
Após dois anos de enfrentamento à pandemia de Covid-19, o 24º Festival de Cirandas do município de Manacapuru, edição 2022 estava apenas começando com a apresentação da Ciranda Guerreiros Mura, na Arena Parque do Ingá. Como de praxe, cada noite foi dedicada a uma ciranda, que tem até 2h30 para apresentar o espetáculo na arena. Tudo indicava para três dias incríveis de festa, pelo menos essa era a expectativa dos munícipes que tiverem que esperar longos meses para a modalidade presencial.
“Esse retorno teria que ficar marcado na história, infelizmente, ficou marcado de uma forma não muito esperada” lamentou Priscila, moradora da cidade.
O governo do Estado do Amazonas destinou através da Secretaria de Estado de Cultura Criativa destinou R$3.300.000,00 (as três milhões e trezentos mil só para a 24º edição do Festival de Cirandas do município, cada agremiação recebeu 1.100.00,00(um milhão e cem mil reais) além de alugar um guindaste para isso das três apresentações. Com esses recursos, a expectativa é que 2.840 empregosfossem gerados e divididos em Operação de fiscalização acerca do enfrentamento as violações de direitos contra crianças e adolescentes, imprensa que cobria os 3 dias de festival, apoio técnico, cachê de bandas locais e nacional, em alegorias e indumentárias as cada uma teve que desembolsar cerca de R$50.000,00. Todos os dados constam no Diário Oficial do Estado do Amazonas (https://diario.imprensaoficial.am.gov.br/).
RECURSOS DESTINADOS A CIRANDA FLOR MATIZADA
RECURSOS DESTINADOS A CIRANDA TRADICIONAL
No dia 26 (sexta feria), a Ciranda Guerreiros Muraabria os trabalhos, com o espetáculo “Fé, Ciência e Arte: A Tríade do Vital Equilíbrio”. Com nenhum imprevisto, a agremiação encerrou sua apresentação e naturalmente forma de divertir. No dia seguinte foi a vez 27, é a vez da Ciranda Tradicional, campeã do último festival, que aconteceu em 2019. Com o tema, “O Dourado”, estava tudo bem até aos 55 minutos de apresentação quando uma forte chuva surpreendeu a todos e o espetáculo teve que ser interrompido, a decisão foi tomada em unanimidade com os representantes da agremiação e todos os órgãos envolvidos visando a integridade física dos cirandeiros, a agremiação recebeu um título de honra. Encerrando o evento, no dia 28 de agosto, a Ciranda Flor Matizada defende o tema “Bendito Ser”.
Em busca de mais um título, a Flor Matizada fazia um espetáculo na arena, quando o público, ostelespectadores, os cirandeiros e autoridades não estavam acreditando no que estavam vendo. Uma alegoria presa a um dos guindastes veio ao chão por muito pouco não caindo em cima de outros brincantes que estavam no solo.
“Meu Deuuuuuuuuuus” gritou uma mulher que estava filmando a apresentação, agora desesperada. “Tem que parar a música” disse outra, (porque os demais brincantes continuavam a dançar).
Só quando as pessoas estavam sendo retiradas machucadas e as ambulâncias adentravam no parque que o som parou, e finalmente a ficha caiu, foi grave, é o desespero tomou conta de todos.
REVOLTA
“O que aconteceu aqui foi irresponsabilidade da parte da diretoria da ciranda, onde já se viu por 20 pessoas em uma alegoria dessas naquelas alturas,afinal de contas era gente, pessoas não eram bonecos de pano e nem de isopor, pensaram mais no título do que na vida deles. Espero que a ciranda agora dê apoio aos brincantes que não ganham nada”. Desabafou Solange Galvão, morada do município.
Um dia após o ocorrido, a Ciranda Flor Matizada emitiu uma nota, onde disse que estava acompanhado todas as vítimas juntos aos outros órgãos e prestando assistência às vítimas do acidente:
Legenda: nota da ciranda Flor Matizada. Foto: reprodução.
No dia do acidente, o governador do Amazonas, Wilson Lima, lamentou o ocorrido. “Ele colocou toda a estrutura do Governo do Estado à disposição para ajudar em tudo o que for necessário e determinou o envio de mais quatro ambulâncias de suporte avançado para a cidade, para atender a eventuais necessidades das vítimas”, informa a nota do governo estadual.
Leia a íntegra da nota do Governo do Amazonas sobre o acidente:
O Governo do Amazonas informa que o Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), que reúne os órgãos de saúde e segurança que trabalham na operação montada para o 24° Festival das Cirandas de Manacapuru, acompanha o andamento de um acidente registrado na noite deste domingo (28/08), durante apresentação, da Ciranda Flor Matizada, em Manacapuru (a 68 quilômetros de Manaus).
O Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBMAM), que está no evento, fez o atendimento inicial das vítimas que ficaram feridas com a queda de um guindaste/alegoria. Até o momento, 23 pessoas precisaram de atendimento e foram encaminhadas para o Hospital de Manacapuru. Três vítimas, em situação mais grave, foram transferidas para Manaus e estão em deslocamento.
O governador do Amazonas, Wilson Lima, lamentou acidente e manifestou solidariedade às famílias. Ele colocou toda a estrutura do Governo do Estado à disposição para ajudar em tudo o que for necessário e determinou o envio de mais quatro ambulâncias de suporte avançado para a cidade, para atender a eventuais necessidades das vítimas.
Em Manaus, os Hospitais e Prontos-socorros 28 de Agosto, Dr. Platão Araújo e João Lúcio estão em alerta para receber vítimas que forem transferidas para Manaus.
RELATO DE SOBREVIVENTE
Legenda: sobrevivente que estava na alegoria que caiu conta os momentos de tensão que viveu. Foto: reprodução
“Eu sempre falava com a minha irmã, mana tenho medo de altura, né irmã? (sim, a irmã balança a cabeça confirmando). No mesmo dia à tarde a gente testou e estava tudo certo, sem nenhum problema, fechei os olhos pra conversar comigo, nós arrumamos e fomos. Gente, tinha alguma coisa errada (ele estava sentindo), depois, na hora da queda, eu só lembro de a gente subir, aí do nada, sei lá o guindaste estourou e quando eu vi todo mundo embaixo e eu apaguei. Sou muito grato aos bombeiros, técnicos em enfermagem, o Samu e todos que de alguma forma prestaram algum tipo de socorro, se não fosse isso talvez a tragédia seria maior. Como o caso desse acidente é delicado até o momento por todo o processo que vem acontecendo, tanto de perícias, depoimentos e etc.Não posso dar detalhes do acontecido justamente por todo processo de investigação, mas na live que eu fiz, como foi aberto ao público e inclusive passou na TV, creio que não tenha nada que possa comprometer o andamento do processo, espero que entenda. Obrigado!” Afirma Hygor Falcão, todo machucado, ainda no hospital com outros feridos.
Ao todo, 23 pessoas ficaram feridas. Todas as vítimas estavam dentro da alegoria, que por um detalhe não despencou em cima de outro grupo que estava dançando embaixo da alegria. Logo após o acidente, as vítimas foram atendidas ainda dentro da arena do festival. Parte delas foi levada para o hospital de Manacapuru e os mais graves foram transferidos imediatamente para Manaus.
O Departamento de Polícia Técnico-Científica do Amazonas (DPTC-AM) está investigando as causas do acidente. Os peritos estiveram na cidade de Manacapuru
De acordo com a diretora do DPTC, Margarete Vidal,em entevista ao portal g1 amazonas, foi constatada uma deformidade na estrutura do guindaste, mas ainda não é possível esclarecer a causa do acidente.
“O que podemos afirmar no momento é que houve uma deformidade da extremidade do guindaste que segurava aquela estrutura que caiu. Diante do que for encontrado hoje talvez seja necessário agregar mais peritos”, disse Margarete.
A agremiação usava dois guindastes, um alugado por ela, outro pelo governo e foi justamente esse que despencou. De acordo com a perícia foi identificado uma deformidade, mas que era cedo para esclarecer a causa do acidente. As investigações seguem em andamento em segredo de justiça.
FATALIDADE
Após lutar 7 dias pela sua vida, a cirandeira Vívian Ramos da Silva morreu, ela estava grávida e perdeu o bebê após ser internada em estado grave no Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto, ninguém sabia da gravidez o que foi mais dolorido para a família que perdeu dois entes queridos.
Agora, é só esperar os resultados das investigações, se houve negligência, punir possíveis responsáveis e aplicar a lei. No entanto, nada disso apagará das memórias dos manacapuruenses.