População já havia alertado sobre pontes que caíram na BR-174 que ligam Manaus a Boa Vista, um dos desabamentos matou 4 pessoas
Por Mayana Ramos
A ponte sobre o rio Curuça na BR-319, foi construída em meados de 2003. O lugar é de difícil acesso. O Rio Curuçá tem profundidade de 20 metros. A maior parte dos 96 metros da ponte de concreto desabou, no km 25 da BR-319, na altura do município do Careiro da Várzea, única rodovia federal que liga o Amazonas ao restante do país.
Criada durante a Ditadura Militar, a BR-319 surgiu com a proposta de integrar o Amazonas ao restante do país, mas sofre há décadas com falta de estrutura para tráfego. Inaugurada em 1976, a BR-319 é conhecida pelos diferentes problemas enfrentados ao longo dos anos. Trafegar pela estrada que liga a capital do Amazonas às outras regiões do Brasil é sempre um desafio para os motoristas.
Grande parte da rodovia segue imprópria para o trânsito de veículos em meio a impasses ambientais e burocráticos. São cerca de 800 quilômetros que separam Manaus de Porto Velho (RO), uma distância que poderia ser percorrida em 12 horas de carro. A recuperação da área está estimada em R$ 1,4 bilhão. Todos os governantes que passaram pela presidência do país prometeram terminar de asfalta-la, mas a promessa não sai do papel.
Em 28 de setembro de 2022, a ponte da BR-319 sobre o rio Curuçá, a 96 km de Manaus, desabou, matando quatro pessoas. Apesar da ponte ter nota 4 de um máximo de 5 de acordo com DNIT, ou seja, precisar de alguns reparos mas não ter danos estruturais, técnicos de empresas contratadas pela autarquia constataram danos críticos, o que levou a uma interdição para veículos pesados algum tempo antes do desabamento. Apesar da proibição, caminhões ocupavam a via no momento da queda. De acordo com os moradores do local o DNIT já tinha ciência da condição “calamitosa” da ponte há nove meses.
No entanto, no momento do desabamento, um protesto de caminhoneiros era realizado em cima da ponte. Isso porque os moradores haviam interditado a ponte, para que passasse apenas veículos leves, mas o caminho é o único terrestre que liga aos demais municípios, ou seja, os caminhões iriam ficar parados e as mercadorias também.
Foi então que os veículos pesados decidiram passar. Em vídeos divulgados dias antes da tragédia pelos moradores, é possível ver rachaduras e buracos no início da ponte.
Uma testemunha que presenciou o acidente afirmou que caminhões estavam parados na ponte no momento do desabamento, bloqueando o fluxo de veículos. “Estávamos aguardando a estrada ser liberada, pois tinha um grupo de caminhoneiros bloqueando a entrada. E eles falaram que não ia deixar ninguém passar. Aí, quando vimos, foi rápido, a ponte foi se quebrando”, explicou o motorista Ricardo Sobreiro, um dos sobreviventes.
Segundo Fernando Catunda, Engenheiro Civil e representante do CREA-AM nos trabalhos de apuração, a primeira suspeita é que houve excesso de peso no momento do acidente. A carga que passava pelo local na hora do desabamento parece ter sido muito acima da capacidade da ponte.
“Inicialmente entendemos que a ruptura se deu pelo excesso de carga pontual devido a parada de caminhões e de uma carreta que transportava um rolo compactador e várias toneladas de cimento, tudo isto, foi devido a ruptura da estrutura (galeria) de passagem de fauna, que se localiza na cabeça de ponte (sentido Careiro Castanho)”, explica.
Ainda resta saber, no entanto, se houve alguma negligência por parte das autoridades responsáveis pela ponte. Catunda disse ainda ao Vocativo que aguarda um posicionamento do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
Na época, o governo estadual prestou apoio as vítimas, e informou que uma estrutura metálica provisória seria construída no local em menos de duas semanas para o tráfego de veículos.
Após 35 dias, no dia 2 de novembro, uma balsa foi colocada no local onde a ponte caiu para ser feita a travessia. Por meio de nota a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), informou que a balsa da empresa Amazônia Navegação, responsável por realizar a travessia sobre o Rio Curuçá, iniciou a operação de transporte de pedestres, veículos e cargas a partir da meia-noite. A balsa funciona 24 horas por dia, com partidas a cada 30 minutos, o transporte é gratuito para todos os passageiros, conforme a agência.A balsa é utilizada enquanto trabalham na construção de uma nova ponte que deve ter mais estrutura para receber o fluxo de veículos pesados que passam pelo local.
Essa foi apenas a primeira ponte que causou estragos, Exatos dez dias depois, em 8 de outubro de 2022, a ponte sobre o rio Autaz-Mirim a 120 km de Manaus também desabou, sem deixar vítimas. A segunda ponte, foi construída em 2006. A queda ocorreu após um trecho dela ser interditado. A via é a mesma, onde a estrutura desabou sobre o Rio Curuçá. Ela havia sido interditada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) por conta do acidente anterior. Não houve registro de feridos. A rodovia é a único acesso de terrestre de parte do estado ao restante do país.