Como a diferença social afeta campanhas de conscientização contra o câncer

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A campanha do Outubro Rosa celebra o Mês da Conscientização Sobre o Câncer de Mama. O mês de outubro foi escolhido para alertar as mulheres e a sociedade sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama e, mais recentemente, também sobre o câncer de colo do útero.

A campanha, celebrada anualmente, tem o objetivo de compartilhar informações e promover a conscientização sobre as doenças; proporcionar maior acesso aos serviços de diagnóstico e de tratamento e contribuir para a redução da mortalidade. Orientações também visam instruir mulheres sobre a importância do autoexame das mamas, a identificação dos sintomas que podem indicar a doença, além do tratamento do câncer.

A atuação conjunta na prevenção a estas doenças e na disseminação de informações de promoção a práticas saudáveis visa um futuro com menos casos de câncer de mama e de colo do útero.

Número de casos no Brasil e no Amazonas

Conforme o Instituto Nacional de Câncer (INCA), estima-se o surgimento de 74 mil novos casos de câncer de mama no Brasil, até 2025. Em âmbito mundial, são mais de 2,3 milhões de casos a cada ano. Somente em 2023, o INCA calculou uma margem em que cerca de 73.610 mil mulheres seriam diagnosticadas com câncer de mama no Brasil. Só em 2020, foram 18.032 mortes causadas pela doença, segundo o Atlas de Mortalidade por Câncer.

Já a terceira maior causa de mortes prematuras femininas no país, o câncer de colo do útero, é um desafio nacional e, no estado do Amazonas, deve ter mais 1.800 novos casos até 2026, exigindo o fortalecimento da política de vacinação contra a doença e dos diagnósticos precoces. Os dados são do Instituto Nacional de Câncer (Inca) que projeta para todo o país, no mesmo período, 51 mil ocorrências.

Taxas elevadas

A taxa de mortalidade por câncer de mama, ajustada por idade pela população mundial, foi 11,71 óbitos/100.000 mulheres, em 2021. Somente na região Norte, temos uma taxa de 8,59 óbitos/100.000 mulheres (INCA, 2022) e, no Amazonas, uma taxa de mortalidade por câncer estimada em 9,44 casos para cada 100 mil mulheres (INCA, 2023).

As taxas de mortalidade por câncer de mama são mais elevadas entre as mulheres de idade mais avançada, porém a mortalidade proporcional é maior no grupo de 50 a 69 anos, que responde por cerca de 45% do total de óbitos por esse tipo de câncer.

Já a última Pesquisa Nacional de Saúde revelou que a taxa de rastreamento do câncer de colo do útero, causada por alguns tipos de Papilomavírus Humano (HPV), é menor em mulheres de baixa escolaridade, pardas e negras. A constatação espelha a desigualdade a que estão sujeitas as mulheres na América Latina e no Caribe, que acumulam 80% das ocorrências nas Américas.

Identificar lesões precursoras garante a não evolução para o câncer. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que seria possível reduzir entre 60% e 90% das ocorrências, aumentando o rastreamento da população feminina para, ao menos, 80% das mulheres.

Dados do Instituto Nacional do Câncer – INCA afirmam que, no Amazonas, são cerca de 27 casos a cada 100 mil mulheres. Parece pouco olhando para este dado isoladamente, no entanto, ao comparar com o estado de São Paulo, o índice por lá é de 9 casos usando o mesmo parâmetro.

Fatores contribuintes

Apesar de amplas campanhas de conscientização, na prática, observamos que a consulta com especialistas não é tão disseminada quanto deveria ser, especialmente entre os grupos mais vulneráveis.

Como exemplo, conforme a pesquisa Datafolha: O que as mulheres brasileiras sabem sobre o câncer de mama, atitudes e percepções sobre a doença, encomendada pela Gilead Sciences Brasil, sete em cada dez entrevistadas se consultaram com um ginecologista no período dos últimos 6 meses a 1 ano. O resultado demonstra que 85% das mulheres pertencentes às classes A/B realizaram consultas médicas. O número cai para 59% entre as entrevistadas pertencentes às classes D/E. Diante disso, os grupos mais vulneráveis se consideram até 7 vezes menos informados sobre o câncer de mama.

Quando falamos de câncer de colo uterino no Amazonas, pode ser ainda mais assustador. Segundo o Serviço Oncológico do Brasil, a taxa no Amazonas é 102% maior que a média nacional. É o segundo estado, atrás de Tocantins, a ter tantos casos por ano. Além disso, o índice de mortalidade também é alto, são cerca de 23 mortes mensais.

Mas por que isso acontece? O principal problema está no acesso ao sistema de saúde. O Amazonas é um estado de imensa proporção e sem rotas de fácil logística. Isso, na prática, significa que há um certo grau de dificuldade em atingir as mulheres que moram em comunidades distantes.

Com isso, mais uma problemática contribui para o cenário: poucos profissionais atuando em localidades distantes. A demanda que chega de todo o estado é maior que a capacidade de atendimento na capital.

Quanto mais avançado, mais invasivo e difícil o tratamento e menores as chances de sobrevida. São inúmeros casos que poderiam ser reduzidos com o acesso facilitado a exames preventivos e a adoção de mecanismos de controle, como vacinação e rastreio, mas que esbarram nas desigualdades sociais e regionais no país.

Texto: Pietra Sadim / Fametro


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