Por Jarleson Lima
Entre debates e reflexões, o Dia da Consciência Negra é celebrado, no Brasil, em 20 de novembro. Marcada pelo simbolismo de figuras históricas como o líder quilombola Zumbi dos Palmares, a data é usada para relembrar as lutas e estigmas diários enfrentados pela população negra brasileira. Dessa forma, apesar de ser conhecido internacionalmente por sua diversidade étnico-racial, o País ainda se entrelaça no fantasma do racismo institucional.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019 cerca de 56.10% da população do Brasil se autodeclarava negra (pretos e pardos), maioria indiscutível. Em contrapartida a esse número, o Datafolha revelou que 1/5 dos brasileiros já sofreu algum tipo de discriminação racial —desses, 55% são pretos. Só 11% de brancos alegaram sofrer preconceito ocasionado pela cor da pele.
Se levarmos em consideração os dados acerca da relação trabalhista no País, a disparidade toma ares mais óbvios: de acordo com estudo Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, 64,2% dos negros estão desempregados e apenas 4,9% ocupam cadeiras nos Conselhos de Administração das 500 empresas de maior faturamento do Brasil (Instituto Ethos). Contudo, no âmbito informal, sem vínculo empregatício, estima-se que 47,3% das pessoas pertencentes a esse setor identificam-se como negras.
Racismo institucional
Para o antropólogo Clayton Rodrigues, os índices são resultado da presença abrangente do racismo institucional nas áreas sociais. O institucional quer dizer que em todas ou nas principais esferas da nossa vida social, religiosa, econômica, da legalidade ou Direito nós iremos encontrar questões que salientam e reafirmam ideias preconceituosas em relação à etnia, pontuou. “Quando tocamos na conjuntura de racismo institucional, estamos falando que na mentalidade da nação brasileira ainda há muito racismo, seja com pessoas pretas, indígenas, ciganos ou qualquer indivíduo que não esteja dentro do modelo ocidental de ser”, completou Clayton.
Pobreza extrema
No viés econômico, a propósito, o racismo institucional se mostra novamente atenuante. Um levantamento do IBGE expôs que, entre a população brasileira, 75% dos cidadãos mais pobres são negros. No caminho contrário, 70% dos maiores detentores de riquezas e poder aquisitivo são brancos. A pobreza extrema, por sua vez, atinge 8,8% da população negra, contra 3,6% dos indivíduos brancos.
Sociedade racista
Em entrevista à Folha de São Paulo, o mestre em psicologia clínica Lucas Veiga, criador do curso Introdução à Psicologia Preta, apontou que o racismo não acontece apenas de maneira direta, mas também de forma estrutural advinda dos tempos coloniais: O racismo não é um episódio isolado, vivemos numa sociedade estruturalmente racista. Quando uma pessoa sofre um crime de racismo isso é, na verdade, uma das expressões do racismo enquanto estrutura. Durante quase quatro séculos houve escravidão no Brasil e, após a abolição, em 1888, não foram criadas políticas públicas de reparação aos danos materiais e emocionais que o período produziu na população negra, afirmou.
Discriminação
Apesar do evidente abismo que se construiu galgado na segregação e racismo institucional, grande parte da população do país não se enxerga como racista. A pesquisa PoderData do Poder360, realizada 4 semanas depois da morte de George Floyd, evidenciou que 81% dos entrevistados assumem a existência de preconceito racial no Brasil, mas apenas 34% admitem que haja discriminação contra pessoas negras