Por Cibeli Ribeiro
Imagine percorrer mais de 100 km todos os dias, enfrentando horas na estrada, buracos, trechos perigosos, cansaço físico e mental. Essa é a rotina de muitos estudantes que vivem em Presidente Figueiredo e na comunidade de Balbina, no interior do Amazonas, e que sonham com um futuro melhor por meio da educação. Diariamente, 325 alunos de Presidente Figueiredo e 40 de Balbina enfrentam uma verdadeira maratona para conseguir frequentar universidades em Manaus. Para quem mora em Balbina, a jornada começa mais cedo, com um trajeto inicial de 80 km até Presidente Figueiredo, e, de lá, mais 107 km até Manaus, totalizando 187 km por trecho, mais de 370 km somando ida e volta em um único dia.
Rotas universitárias
A jornada é possível graças às rotas universitárias, um transporte coletivo oferecido pela Prefeitura de Presidente Figueiredo, em parceria com a Associação dos Universitários, Técnicos e Graduados de Presidente Figueiredo (AUNITEGRA). Os estudantes contribuem com um valor simbólico de R$35,00 mensais, que auxilia na manutenção da associação e no custeio do serviço. Sem esse apoio, a maioria simplesmente não conseguiria frequentar a universidade.
“Se não fosse essa rota, muitos de nós teríamos sido obrigados a abandonar os estudos. Não é questão de escolha, é questão de necessidade. As passagens de táxi são absurdamente caras, inviáveis pra nós que precisamos se deslocar de cidade todos os dias. Sem esse transporte, o sonho de se formar se tornaria impossível para muita gente”, desabafa Maria Leal, acadêmica de Administração.
Desafios diários na estrada
A rotina, no entanto, é exaustiva. Além do desgaste físico, os estudantes enfrentam más condições da rodovia BR-174, com buracos, animais na pista e falta de iluminação em alguns trechos, longas horas de viagem, que impactam a saúde física e mental. Pouco tempo para descanso, lazer ou até mesmo para estudar. O relato da estudante Estefanny Girão, do curso de Nutrição, retrata bem essa realidade.
“A minha experiência com isso é que é bastante cansativo. A gente sai daqui 15h da tarde e só chega meia-noite, às vezes quase 1h da manhã. Isso dificulta muito a nossa vida, ainda mais quando estamos em semanas de prova. A gente precisa acordar cedo para estudar, porque não tem tempo durante o dia. E quem trabalha, então, nem se fala. Não é uma escolha fácil, mas é o que temos para tentar construir um futuro melhor”, relatou a estudante de nutrição.
Uma realidade que se repete pelo Brasil
O caso dos universitários de Presidente Figueiredo e Balbina não é isolado. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 15% dos estudantes do interior do Brasil precisam percorrer grandes distâncias diariamente até os centros urbanos, principalmente as capitais, para acessar o ensino superior presencial.
Com dados do IBGE, o infográfico mostra a realidade de centenas de universitários do interior do Amazonas e do Brasil. O dado visual revela a desigualdade de acesso à educação que ainda persiste, especialmente na região Norte, onde as distâncias são maiores e a oferta de cursos no interior é limitada.
Resistência, superação e futuro
Apesar dos desafios, o que move esses estudantes é a esperança. Para muitos, conquistar um diploma vai além de um objetivo pessoal, é uma oportunidade real de transformar suas vidas e impactar positivamente suas comunidades. Alguns, inclusive, tomam decisões ainda mais desafiadoras, como deixar suas cidades e se mudar para Manaus, em busca de melhores condições para estudar e realizar seus sonhos.
“Era bem cansativo pegar a rota todos os dias, ainda mais eu que morava na estrada de Balbina e tinha que sair bem cedo e chegava em casa muito tarde. Quando consegui um estágio aqui, decidi me mudar de vez e correr atrás dos meus sonhos”, conta Kézia Martins, estudante de Jornalismo.
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