Por: Eliane Matos, Layonn Fernandes, Yara Chaves, Giovana Jardim, Kemily Nascimento*
A desinformação se espalha em silêncio (Foto: Eliane Matos)
MANAUS (AM) – A desordem informacional diz respeito tanto às conspirações, rumores, mídia manipulada, quanto às informações superficiais, descontextualizadas, enganosas e errôneas, conforme nos orientam Fenton e Freedman (2018). Durante a pandemia de COVID-19, esse fenômeno ganhou proporções alarmantes no Brasil, com consequências diretas para a saúde pública, a confiança nas instituições e a coesão social.
A chegada da COVID-19 ao Brasil em 2020 não trouxe apenas uma crise sanitária, mas também uma verdadeira avalanche de desinformação. Em meio ao medo, incertezas e mudanças constantes nas diretrizes de saúde, milhões de brasileiros se viram expostos a uma mistura de informações verdadeiras, falsas e distorcidas, compartilhadas principalmente por redes sociais e aplicativos de mensagens.
Teorias conspiratórias sobre a origem do vírus, supostas curas milagrosas sem comprovação científica, como o uso indiscriminado de cloroquina e ivermectina, e a negação da gravidade da doença comprometeram a eficácia das estratégias de combate à pandemia.
A desordem informacional minou a adesão às medidas preventivas, como o uso de máscaras, o distanciamento social e a vacinação.
O fenômeno foi agravado por lideranças políticas que, ao invés de combater a desinformação, muitas vezes a alimentaram. Segundo especialistas, declarações públicas desacreditando vacinas e minimizando o impacto do vírus contribuíram para a desorientação da população.
O resultado foi uma taxa de mortalidade elevada, colapso no sistema de saúde em diversas regiões e atraso na imunização em massa.
Além dos danos imediatos à saúde, a pandemia revelou fragilidades estruturais na educação midiática e científica dos brasileiros.
A desinformação evidenciou a necessidade urgente de políticas públicas voltadas à alfabetização digital e ao incentivo à ciência.
Com o fim da fase aguda da pandemia, algumas mudanças começaram a surgir. Houve um fortalecimento da atuação de agências de checagem de fatos e maior vigilância por parte de plataformas digitais para conter a propagação de conteúdos falsos. A sociedade civil também passou a se mobilizar mais ativamente para combater boatos e promover o pensamento crítico.
No entanto, os efeitos da desinformação não desapareceram com o fim da pandemia. A confiança nas instituições científicas e nos meios de comunicação ainda enfrenta desafios. O negacionismo deixou marcas profundas e, em alguns casos, permanentes.
A experiência brasileira com a COVID-19 tornou evidente que enfrentar a próxima crise de saúde pública — ou qualquer outra crise — exigirá não apenas estrutura hospitalar e vacinas, mas também uma população bem informada e consciente do papel que a informação de qualidade desempenha na proteção coletiva.
A pandemia de COVID-19 escancarou a vulnerabilidade do Brasil à desinformação. Os danos foram profundos, mas o período pós-pandemia também trouxe oportunidades para refletir, aprender e construir uma cultura de informação mais sólida, crítica e responsável. O combate à desinformação tornou-se, enfim, uma questão de saúde pública.
Confira o artigo “Entenda a infodemia e a desinformação na luta contra a COVID-19” .
https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/52054/Factsheet-Infodemic_por.pdf
Por: Tina Purnat do Departamento de Saúde e Inovação Digital da Divisão de Ciência da Organização Mundial da Saúde em Genebra, Suíça; e Tim Nguyen, do Departamento de Preparação para Riscos Infecciosos Globais do Programa de Emergências da Organização Mundial da Saúde em Genebra, Suíça.
*Finalistas do curso de Jornalismo do 8º período de Jornalismo 2025/1 para a disciplina Laboratório de Jornalismo Multimídia, ministrada pelo professor Rômulo Araújo.